O Rio de Janeiro declarou estado de emergência de saúde pública devido a uma epidemia de dengue, poucos dias antes das celebrações do Carnaval acontecerem em todo o Brasil.

O prefeito da cidade, Eduardo Paes, anunciou a medida na segunda-feira, segundo a afiliada da CNN, CNN Brasil, em um esforço para conter a propagação da doença transmitida por mosquitos, que causa sintomas semelhantes aos da gripe e pode levar à morte em casos extremos.

O aumento nos casos de dengue aumentou a urgência de uma campanha planejada de vacinação em todo o país e também ocorre no momento em que o Rio se prepara para seu Carnaval mundialmente famoso, que começa oficialmente na sexta-feira. As festividades pré-Quaresma são realizadas em todo o Brasil, com os desfiles coloridos e as festas de bairro do Rio conhecidas por estarem entre as maiores festas do mundo, enquanto milhões de foliões saem às ruas.

Este ano, o Rio já registrou mais de 11,2 mil casos de dengue, segundo o painel do observatório epidemiológico da Câmara Municipal, ante quase 23 mil em todo o ano de 2023.

Só em janeiro, 362 pessoas foram hospitalizadas no Rio devido à dengue – um recorde que supera o recorde anterior de 2008, informou a CNN Brasil.

“Em um único mês de 2024 já temos quase metade dos casos de todo o ano anterior, o que gerou grande preocupação”, disse o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, na última sexta-feira.

Para conter a propagação da doença, a cidade disse que abriria 10 centros de atendimento em todo o Rio e o Ministério da Saúde criou um centro de emergência para coordenar as operações, informou a Reuters.

O Rio é um dos três estados a declarar emergências de saúde pública devido ao aumento das infecções por dengue, incluindo o segundo estado mais populoso, Minas Gerais, e o Distrito Federal, onde fica a capital Brasília, segundo a Reuters.

Nas primeiras cinco semanas do ano, foram notificadas quase 365 mil infecções por dengue em todo o país – quatro vezes mais do que no mesmo período do ano passado, informou a Reuters, citando o Ministério da Saúde. Quarenta mortes foram confirmadas, disse o ministério.

“Várias cidades brasileiras enfrentam situação de emergência devido ao grande aumento de casos de dengue”, disse a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade, em comunicado na terça-feira.

“O calor recorde e as chuvas acima da média desde o ano passado aumentaram os surtos de transmissão do mosquito… Este é o momento de intensificar os cuidados e a prevenção. Agora é hora de todo o Brasil se unir contra a dengue.”

A dengue é uma infecção viral transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, mesmo inseto responsável pela propagação do zika, da chikungunya e da febre amarela.

Causa fortes dores de cabeça, dores musculares e articulares, febre e erupções cutâneas, embora apenas 25% dos infectados apresentem sintomas. Casos extremos podem causar sangramento, choque, falência de órgãos e potencialmente morte.

A dengue é o vírus mais comum transmitido por mosquitos, infectando milhões de pessoas em todo o mundo todos os anos, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Embora não exista tratamento específico para a doença, o Brasil planeja lançar uma campanha de vacinação em massa contra a dengue.

O Brasil aprovou a vacina em março de 2023 e se tornou o primeiro país a oferecer uma vacina contra dengue no sistema público de saúde, segundo o Ministério da Saúde.

O plano do ministério é inocular 3,2 milhões de pessoas em 2024, começando pelas crianças dos 10 aos 14 anos, com a vacina Qdenga da farmacêutica japonesa Takeda.

“A vacinação ocorrerá de forma progressiva, dado o número limitado de doses produzidas pelo laboratório fabricante”, afirmou Nísia em comunicado. “Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde coordenará um esforço nacional para ampliar a produção e o acesso às vacinas contra a dengue.”

Brasília iniciará a vacinação já na sexta-feira, informou a Reuters.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio disse que também planeja vacinar crianças assim que as doses forem liberadas pelo Ministério da Saúde, informou a CNN Brasil.

Os ensaios clínicos demonstraram que a vacina reduziu o risco de dengue grave que requer hospitalização em 80-90%, de acordo com um artigo publicado na revista Lancet no mês passado.

Falando em Brasília na quarta-feira, o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que o atual surto de dengue no Brasil “está sendo alimentado pelo fenômeno El Niño”, um padrão climático natural que se origina no Oceano Pacífico e influencia o clima global. O atual El Niño tornou-se um dos mais fortes já registados, de acordo com novos dados do Centro de Previsão Climática da NOAA.

Na verdade, este surto de dengue faz parte de um aumento global da dengue, com mais de 5 milhões de casos e 5.000 notificados no ano passado em 80 países em todas as regiões do mundo, exceto na região da Europa”, disse Tedros.

Desses 5 milhões de casos globais notificados, quase 3 milhões ocorreram no Brasil, segundo dados da OMS.

O número global de casos de dengue aumentou oito vezes nas últimas duas décadas, segundo a OMS, impulsionado pelas temperaturas mais altas e pelas estações chuvosas prólogas.

À medida que a crise climática causada pelo homem se agrava, as doenças transmitidas por mosquitos irão provavelmente espalhar-se ainda mais e ter um impacto cada vez maior na saúde humana.